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Sobrevivi ao coronavírus, e só quero que você fique em casa

Diana Viaja coronavírus

O nome desse site é Diana Viaja. Mas faz mais de um mês que a única dica que eu dou é: Fique em casa! E também faz cerca de um mês que meu peito doeu como nunca tinha doído. E, então, eu recebi o diagnóstico que eu não queria: Covid-19.

No dia que fui ao médico e recebi o tal diagnóstico, uma frase não saiu da minha cabeça. “A vida não te ensina a ser forte, ela te obriga”. Mas a verdade é que ser forte cansa.

Mentir cansa e fingir que tá tudo bem cansa. Foram duas semanas de dores no corpo e todos os sintomas de coronavírus – aqueles que a Organização Mundial da Saúde não cansa de falar, e você já deve estar cansado de saber. Perda do olfato, perda de apetite, muita fadiga, tosse, falta de ar, febre e muita dor no peito e também nas costas.

Achei que nunca fosse contar aqui no site, pois problemas saúde não costumam ser algo que se compartilha em público. O Diana Viaja é meu “happy place”, não meu muro de lamentações.

Eu conto a vocês como viajo, exploro o mundo ou descubro Paris a cada semana. Mas com um Brasil tão confuso, e com tantos amigos ainda perdidos, acho que é meu dever social contar um pouco pra vocês de como foi vencer essa “batalha”. E não foi fácil, mas sobrevivi ao coronavírus.




Altos e baixos

Tive altos e baixos durante uns 20 dias no mês de março/ abril.  Venci, mas não me acho um “milagre da ciência” como a minha médica disse esta semana para tentar me animar. Tenho 36 anos, e levo uma vida relativamente saudável, apesar das minhas listas de hambúrgueres pelo mundo. Estava pronta fisicamente, mas a doença também me derrubou psicologicamente. 

Foi difícil ficar sozinha. Logo eu que tenho dezenas de textos aqui exaltando como pra mim é fácil viajar sozinha. Mas foi mais difícil pensar que se eu morresse aqui a minha família estava a 9.162 quilômetros de distância – e sem poder pegar um avião. E que algum amigo teria que se ocupar das minhas cinzas.

Foi difícil pensar que eu podia ter contaminado outras pessoas. Foi difícil saber onde e em que momento exatamente eu fui contaminada. Estávamos no fim do inverno, e todo mundo estava gripado.

E o sentimento de culpa todas as pessoas que conheço que tiveram covid-19 também relatam. Será que fui eu que te passei? Ou será que foi você que passou para mim? Logo eu que sou a rainha do álcool gel, tava lavando a roupa toda hora na temperatura máxima da máquina, tirando sapato na porta e lavando as mãos toda hora também. Quase sem digitais nos dedos.

Medo

Foram dias dormindo com meu dois passaportes por perto, e telefone carregado para se a dor aumentasse ou a respiração falhasse eu tivesse pronta para ligar pra o SAMU ou para a minha médica.

Isso porque se eu fosse ao hospital para ficar internada eles precisariam saber que eu era não só uma portuguesa morando em Paris, mas também uma brasileira. O consulado brasileiro não tem nenhum controle dos brasileiros que estão no exterior. Enquanto o português mantém contato frequente com seus cidadãos.

Me recuperei em casa, isolada, me forçando a comer e a pegar sol na janela, mas com o apoio de médicas maravilhosas. E que viraram também minhas psicólogas no “estresse pós-coronavírus”. Foram elas que me disseram para contar à minha família, aos amigos e, nesse caso, aos leitores.

Esse é apenas um texto de gratidão, e de alerta.  Não é um drama de uma brasileira que mora fora e, sinto muito, se alguém entender assim. Eu sei dos meus privilégios sociais. Mas precisava contar para vocês que a doença existe, te derruba por dentro, derruba seu psicológico e te faz repensar muita coisa.

Quem são as pessoas que estão ao seu lado? Ou com quem você sabe que pode contar? Quem você quer proteger mais? Eu queria colocar minha família num avião e mandar para uma ilha deserta equipada com um hospital de ponta.

Amizades e amores testados

Fato é que quando você passa por situações extremas, as amizades e os amores são testados. Mas num bom sentido: Você sabe que tem um grupo que vai estar contigo, e um time que vai só te seguir no bar, no churrasco ou na curiosidade sobre sua vida.

Não foi a primeira vez que liguei para alguém e disse: “Podia ter morrido, mas estou bem”. A sensação de sobreviver é ótima por alguns minutos, mas depois ela não te garante nada. Ou seja, isso não te deixa mais forte – ainda que muitos escolham me chamar de corajosa por morar sozinha, ser independente etc. Mas, hoje, ser corajosa causa estranheza porque, dessa vez, me senti a mais frouxa. Aquela que só teve coragem de contar para toda a família (e agora para os leitores) quando já estava curada.

Minha maior viagem foi essa

E agora é pedir para vocês ficarem em casa porque o vírus está em todo lugar. E só isolamento te protege. Fuja de humanos, eles são contagiosos ❤️

Fique em casa o máximo que puder, e evite contato com outras pessoas. Ainda que você os ame muito. Faz um mês que não dou um abraço em ninguém. Provavelmente, só darei um abraço em alguém em maio. E isso dói, mas eu preciso olhar lá na frente e saber que ficar longe dos amigos e amores valeu a pena!

Além disso, ficando em casa a gente deixa os médicos e cientistas trabalharem. Se todo mundo doente ao mesmo tempo, não vai ter lugar. Aqui na França não tinha, e o governo teve que mais que dobrar o número de leitos de UTI.

Desculpa ter escondido as dores e dito que estava tudo bem no Instagram, mas isso não é nada. Eu tenho a benção de morar sozinha, poder trabalhar de casa e ter acesso aos médicos. Mas não existe fórmula mágica. Só ficar em casa e praticar o isolamento social porque ninguém sabe como vai ser a doença quando o vírus bate no seu corpo. Eu senti uma batalha no meu peito.

Cada batalha é uma

Dessa maneira, não desejo a ninguém as dores que meu peito sentiu. E, muito menos, o medo da morte e do desconhecido que vieram com ele. Eu já contei pra vocês que brevemente sobrevivi ao H1N1 em 2009 e, agora, conto que sobrevivi ao coronavírus –  Covid-19.

Mas isso não te faz mais especial que ninguém porque cada batalha é uma, e sei que não acaba aqui. Cada um de nós tem suas próprias batalhas – e a vida é basicamente isso. Então, não achem que vai ser fácil. Vivemos tempos difíceis. Cuidem-se muito.

Meu último pedido é para que, se você puder, doe para alguma das iniciativas de apoio ao combate ao coronavírus. Aqui na França, a Cruz-vermelha tem apoio aos doentes e famílias carentes. Sei que no Brasil e, em cada cidade, há pessoas arrecadando fundos e doações. Mas se você não conhecer nenhuma instituição nesse sentido, pode doar para o fundo do Unicef Brasil contra o coronavírus ou para a Ação da Cidadania.

Com amor,

Diana Figueiredo


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